A história da prisão do coronel Sylvestre e de seus colegas pelo DOI de São Paulo durante a caçada ao PCB mostra como o regime usou a violência para reprimir seus opositores
“Seu filho da puta, traidor. Hoje você fala!” Mandaram-no ficar nu e o sentaram na cadeira do dragão. O tenente-coronel Vicente Sylvestre nunca imaginou que seria torturado. A energia dos choques elétricos atravessava-lhe a alma, e a madeira que prendia suas pernas entrava em sua carne. Sua condição de oficial não lhe serviu de proteção nos interrogatórios do Destacamento de Operações de Informações (DOI) do 2.º Exército, em São Paulo. A cabeça girava. Lembrava de sua prisão. Era 9 de julho de 1975 quando um carro da Polícia Militar estacionou diante de sua casa, no Butantã, na zona oeste de São Paulo. Dele desceu o coronel Bruno Éboli Bello, chefe do Serviço de Informações da PM. Sylvestre chefiava o Estado-Maior do Policiamento Interior e foi levado ao quartel-general (QG) da PM. O tenente-coronel não era o primeiro militar preso desde que o DOI de São Paulo intensificou a caçada ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), em 1974. Criado em 1969 para pôr ordem na repressão, o destacamento centralizou o “combate à subversão no País”, assumindo o lugar do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, onde pontificava o delegado Sérgio Fleury. O trabalho no DOI fez com que dezenas de agentes fossem condecorados pelo Exército com a medalha do Pacificador. Em sua história, o órgão prendeu 2,6 mil pessoas, 51 das quais, segundo os militares, morreram. A conta não inclui a morte de 28 pessoas enviadas a outros cárceres ou que desapareceram – a maioria em ações comandadas pelo capitão Ênio Pimentel da Silveira. O projeto Brasil Nunca Mais listou 876 denúncias de tortura contra o órgão. Sylvestre é parte dessa estatística. “Traíste a tua Pátria e o teu comandante”, gritou o então comandante da PM, o general Francisco Batista Torres de Melo, ao ver o subordinado. Sylvestre ficou em uma cela no porão do QG. Dias depois, uma equipe do DOI, chefiada pelo agente conhecido como Capitão Ubirajara, foi buscá-lo. O homem quis encapuzá-lo ali mesmo, mas Éboli não deixou. Obrigaram-no, no entanto, a vestir o macacão verde dos prisioneiros do DOI. ( leia toda a matéria aqui em http://estadao.br.msn.com/ultimas-noticias/tapas-socos-e-choques-a-tortura-atinge-os-oficiais )