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Faço tricô e crochê. É o que posso fazer de melhor. Como uma típica mineira, fui iniciada na escola de todas as prendas, e me saí bem nessa coisa de tramar a lã no inverno e o algodão no verão – tecer, laçar, arrematar e dar um nó invisível. Gosto disso de pontos e nós. Formas que surgem do desenho de um fio em um par de agulhas, bem ali na minha mão. O tricô é a minha composicão no mundo, é o meu mundo, por onde transito meus pensamentos e ideias. Tudo que vejo, sinto, escuto e leio vira tricô. Decidi estudar moda, em parte por ter vivido toda a infância e adolescência nas fábricas têxteis de meu pai e meu avô, e em outra parte por gostar mesmo de roupa e da importância que ela tem. E tratei de fazer tudo à mão, porque era como eu sabia fazer. Pensei a DOISELLES como uma marca só de trico e crochê, feitos em laçadas milenares mas com agulhas grossas e modelagens amplas. Nada de casaquinho da vovó com a cava no lugar e seis botões de pérolas: a nossa trama é metida a moderninha. E digo mais: feita por homens, por presidiários. Como assim? Simples.
Quantas pessoas você conhece que sabem tricotar (me dê o telefone de todas elas!)? Por ser uma coisa que mais ninguém aprende a fazer hoje em dia, eu precisava treinar pessoas para produzir comigo. Quando abri a empresa éramos só eu e minha mãe contando com a ajuda de umas vizinhas que pegavam uma ou outra encomenda, enquanto tomavam conta dos netos. Seria impossível prosperar naquele ritmo. Eu sabia que precisaria ensinar esse ofício a um grupo de pessoas. Alguém que quisesse e precisasse aprender uma profissão. Foi assim que fui parar num presídio de segurança máxima com minhas agulhas e tesouras. Treinei 40 homens. Eles foram tomando gosto pelo tricô, até mesmo por moda de uma maneira geral. Meus meninos, que quando eu cheguei lá mal sabiam diferenciar blusa de camisa, hoje sabem até quem é John Galliano. Eles amam, vibram, se amarram em moda! São essas voltas da história que compõem nossa trama. E eu te convido para conhecer ao vivo, tocar e sentir.
I. EMANAÇÃO
Todos nós, nesta condição humana, precisamos de um componente para florir o caminho: o sonho. Sonhar é uma forma de acreditar com magia, é ter fé. Eu sonho, acredito e tenho fé na mudança, seja ela total ou parcial, singular ou plural, pequena ou grande. Por pensar assim, ou por ter nascido sob o sol de Aquário, por observar os movimentos da natureza ou por simplesmente por rejeitar o status quo eu decidi começar esse projeto. E como tudo, antes de ser tudo era só uma pequena semente, uma idéia longínqua que ficava em pé na reunião de pensamentos que povoavam nosso universo particular. Foi assim que esse projeto nasceu sem pretensão, diante de um amigo que me encanta pela maneira com que firma virtudes e valores humanos dentro da vida política: o vereador Flávio Cheker. E se sonhar junto já é realizar, ele, como presidente da Comissão dos Direitos Humanos e eu, como empresária, unimos nossas vontades para concretizar uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na busca pela valorização da mão-de-obra carcerária.
II. CRIAÇÃO
O projeto foi concebido e justificado dentro da Lei de Execução Penal (LEP – Lei nº 7.210/84: art 28) que diz: “O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva”. Afinal, este micro-sistema de poder e sujeição, como explica Foucault, também se submete aos elevados ditames constitucionais. E a Constituição da República é suficientemente clara quando inaugura o Título I, referente aos Princípios Fundamentais, enunciando que o Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamento a dignidade da pessoa humana, dentre outros (art. 1º, III). Além disso, este generoso e imenso continente chamado Brasil ainda estabelece em sua Lei Maior que constitui seu objetivo fundamental construir uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I).
Num primeiro contato com a direção da penitenciária, fomos encorajados a realizar alguns testes com a mão-de-obra masculina para o trabalho. Estranhei a proposta por nunca na vida ter visto um homem fazer tricô e crochê, mas eu estava ali para ver coisas que nunca vi na vida. Tivemos o contato direto com os presos para a seleção inicial. O primeiro contato deles com as agulhas seria algo que beirava o impossível, um desconforto geral entre homem e ferramenta. Mas nada é mais impressionante do que a FORÇA DE VONTADE. Nada é mais forte que o DESEJO de reverter uma condição. Nada é mais bonito do que provar que tudo é possível.
III. FORMAÇÃO
Levei comigo todas as manhãs da primeira semana de treinamento uma frase de Dostoievski, para me munir de toda a paciência e naturalidade para um mergulho dentro de uma oficina com 20 presos, 20 tesouras e 20 pares de agulhas: “um ato de confiança dá paz e serenidade”. A revelação do que eles seriam capazes não demorou mais do que um dia. A rapidez com que eles aprenderam os movimentos dos pontos básicos do tricô garantiu que antes do tempo inicialmente previsto já estivessem computando a produção e remindo a pena (cada três dias trabalhados garante um dia de remissão).
V. AÇÃO


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