Quem passa pela rua Pedro Quirino, ao lado do Hospital do Câncer, tem encontrado as árvores do local bem diferentes do habitual. Desde o dia 9 de dezembro, os troncos das árvores foram envolvidos com uma espécie de ‘capa’ confeccionada com mandalas coloridas feitas em crochê.
A ação faz parte do projeto “Ponto a Ponto”, iniciativa do Apoio Pedagógico Artístico e Cultural, que tem no crochê uma ferramenta para trazer arte e alívio para os pacientes enfrentarem o tratamento do câncer. A ideia surgiu da voluntária e artista plástica Maria Clara Ferraz, que já conhecia algumas ações semelhantes adotadas em outros locais. “Estava em Buenos Aires e vi, em frente ao hotel em que estava hospedada, uma árvore linda enfeitada com crochê. Naquele momento comecei a pensar em como aplicar aqui no Hospital”, explicou.
A proposta recebeu apoio, do coordenador do Apoio Pedagógico, Leonardo Almeida, que prontamente envolveu as voluntárias Alice e Nathalie Bondon, Sílvia Seabra e Patrícia Almeida, na missão de fazer os entrelaçados dos barbantes se transformarem em verdadeiras obras de arte. No entanto, a função de fazer o crochê não poderia ficar restrita somente às voluntárias, por isso contou com a ajuda de pacientes e acompanhantes. Dessa forma, o hospital se tornou um grande ateliê onde uns ensinam aos outros.Pacientes adultos e infantis abraçaram a ideia e se divertiram com o novo projeto. Para a voluntária Alice Bondon, a oportunidade reavivou o prazer e o hábito de fazer crochê. “Ensinava para os pacientes com prazer. Alguns deles pediam para aprender. Até mesmo os homens participaram do projeto. Muitos se empolgaram tanto que faziam as mandalas em casa e depois as traziam para nós”, conta.
O crochê incentivou não só os pacientes, mas também a filha de Alice, a voluntária de 27 anos, Nathalie Bondon. “Comecei como voluntária em outro projeto, mas minha mãe acabou me chamando para ajudar no ‘Ponto a Ponto’, aprendi a fazer crochê especialmente para colaborar”, relata.
A equipe de voluntários do Artesanato, coordenada por Vânia Maria, também contribuiu com doações para enfeitar as árvores. Fazer crochê também mudou o dia a dia e a vida de Maria de Fátima Fagundes, que há três anos luta contra o câncer de colo do útero. A ideia de participar do projeto foi da oncologista com a qual Fátima se consultava. Depois que a médica notou que a paciente apresentou um quadro depressivo, ocasionado pela doença sugeriu que buscasse o projeto. “Tudo isso aqui foi uma benção pra mim. Eu acho que todo paciente deveria experimentar essa oficina, porque ela é uma terapia que ajuda muito a gente”, conta a Maria de Fátima. Mesmo sabendo fazer crochê desde muito nova, Fátima reaprendeu a técnica com ajuda das voluntárias e o artesanato se tornou uma válvula de escape para suportar momentos difíceis da doença. “Às vezes estou em casa, sentindo muitas dores, então começo fazer o crochê e esqueço a dor. É ótimo! Tenho indicado a oficina para todos os outros pacientes que conheço”, disse.
As árvores devem ficar enfeitadas por cerca de dois meses. O projeto continua e tem se multiplicado entre os pacientes. “A reação dos pedestres diante da intervenção artística nas árvores tem sido positiva. O local agora se tornou ponto diferenciado no Hospital e tem arrancado sorrisos e produzido fotos e selfies que se espalham pelas mídias sociais” comenta a assistente de comunicação, Carolina Tomaz, do Grupo Luta Pela Vida.