Presidente russo Vladimir Putin aplaude Maya Plisetskaya após espetáculo no Teatro Bolshoi, em Moscou, em 2000. – STRINGER/RUSSIA / REUTERS
Pernas longilíneas, braços expressivos, uma personalidade notável no palco, interpretações carismáticas que tornariam seu nome indissociável de certos balés, como “A morte do cisne”. A bailarina russa Maya Plisetkaya reunia qualidades que fizeram dela um dos maiores nomes em cena no século XX, principalmente no Bolshoi, onde dançou por 35 anos. A intensidade de suas performances, especialmente em papéis dramáticos como em “O lago dos cisnes”, de Tchaikovsky, contrastava com o estilo etéreo comum a outros dançarinos.
Maya Plisetskaya morreu em sua casa, em Munique, no sábado, de ataque cardíaco. A bailarina tinha 89 anos, e era casada desde 1958 com o compositor Rodion Shchedrin. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, emitiu uma nota oficial lamentando a perda. Em sua página no Facebook, o bailarino e ator Mikhail Baryshnikov disse que Maya foi “uma das maiores dançarinas de nosso tempo”. “Sempre lembrarei de seu trabalho em ‘A morte do cisne’”, escreveu
Maya entrou aos 9 anos na escola do Bolshoi, onde rapidamente se destacou. Aos 19 anos, já como bailarina da companhia, dançou vários papéis principais, mas sempre esteve às voltas com a má vontade das autoridades soviéticas. Em 1951, quando foi agraciada como Artista Honorável da USSR, houve protestos da Juventude Comunista. E, na turnê da companhia a Londres em 1956, primeira vez em que o Bolshoi viajava ao Ocidente, foi excluída, sob a alegação de não ter maturidade política. Ela só seria aclamada internacional quando o Bolshoi se apresentou em Nova York, em 1959. No Brasil, esteve três vezes: nos anos 1970, com o Bolshoi, no início da década de 1980, com o Balé do Século XX, de Maurice Béjart, e em 1996, com o Ballet Imperial Russo, que criara dois anos antes.
Vários coreógrafos criaram papéis para ela, entre eles Béjart e Roland Petit. Ela foi também diretora artística do Balé da Ópera de Roma (1983) e do Balé Nacional da Espanha (de 1987 a 1990) e recebeu numerosas homenagens, inclusive de seu país natal — no ano 2000, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu-lhe a medalha por serviços prestados ao Estado.
VÍTIMAS DE STALIN
Maya Plisetskaya nasceu em Moscou, em 20 de novembro de 1925, filha de uma atriz do cinema mudo e de um engenheiro de alta posição na indústria de minério do país, ambos judeus. O pai foi assassinado em 1938, num dos expurgos promovidos por Stalin. A mãe, presa num campo de trabalho, e depois enviada para o exílio no Casaquistão. O fardo dos pais amargurou a filha, que alimentou, ao longo da carreira, sentimentos antissoviéticos. Ela mesma escapou de viver num orfanato graças à interferência de uma tia, com quem romperia mais tarde (a história está na biografia “I Maya Plisetakaya”, publicada em 2001).