A coluna social acabou antes do jornal impresso acabar.
E não estou dizendo do Jornal Correio não. Mas serve também.
A coluna social acabou porque a sociedade morreu.
Digo a sociedade tradicional.
O high society.
Mas antes da sociedade morrer, (e foi por isto que ela morreu), acabaram-se o bom senso, a boa educação e bons hábitos, o respeito, o profissionalismo e – logicamente o glamour – entre outras dezenas de comportamentos e afins.
Os sobrenomes tradicionais foram “morrendo”.
Vou explicar este “morrendo”:- tem um tanto de famílias tradicionais com sobrenomes tradicionais e são tradicionais por possuirem tradição – junto vem história, arte, cultura, etiqueta e tem de se nascer na sociedade para se pertencer a uma.
Simples assim.
Com o passar dos anos estes valores foram engolidos pela velocidade do tempo, do mundo e da própria degradação humana.
Mas se você observar um homem puxar a cadeira para uma mulher se sentar – este já é um exemplo de boa educação que pode vir de alguém da sociedade tradicional ou não.
Pelo fato de que bons modos não se precifica.
E o tão falado e comentado “berço”.
E os sobrenomes tradicionais com boa educação ou não – nada tem a ver com dinheiro.
Podem ter tido dinheiro no passado mas mantém toda a tradição, história, hábitos e afins.
Fortuna é um ítem importante, patrimônio, dinheiro antigo e tudo mais.
Como também podem ter toda esta história, postura e comportamento e não possuir bens.
Mas dando lugar à classe do dinheiro novo, o conhecido “nouveaux riches” e depois chegaram os “emergentes”.
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Os novos ricos têm vergonha de suas origens e as omitem.
E os emergentes não possuem vergonha e gostam de contar que vieram das classes mais baixas e têm orgulho em dizer isto, que a mãe era lavadeira e hoje ele é um grande empresário / industrial.
Ainda batem no peito ao contar (acho legal isto porque, primeiro lida com a verdade e segundo mostra que a força do trabalho, o suor do rosto enobrece qualquer sujeito.
Mas o dinheiro novo, é imaturo, sem educação e comete gafes como comprar um lindo tapete persa e corta-lo em quatro pedaços e fazer de tapetinhos para o carro.
Um assassinato.
Conhecido personagem na TV dizia, “mas eu tô pagando”.
Mas tanto os novos ricos quanto os emergentes adoram mostrar que possuem dinheiro e gastam de maneira deslumbrada porque se faz necessária a exposição.
Caso contrário nem gastariam (creio eu) – porque o must do orgasmo está não em ter mas em exibir.
E junto deste deslumbramento vem um pacote de pessoas, momentos e comportamentos, desnecessários e, por isto, desagradáveis.
E deixo aqui que existem sim as exceções mas em sua grande maioria é assim que funciona.
Dando continuidade – quero aqui afirmar que dinheiro é ótimo mas só ele sózinho não é nada. E nem todo mundo que é da sociedade tradicional tem educação.
Por muitas vezes, aquele sujeitinho trajando sapatos de cromo alemão se comporta muito pior do que o que está de sandálias havaianas.
O importante é a essência, a natureza, e voltando mais uma vez o berço. Porque o berço, os bons modos não se faz necessário o uso do dinheiro.
Digo isto dentro de casa, os ensinamentos dos pais (que infelizmente nos dias de hoje, até mesmo por não possuirem tais informações delegam a boa educação para as escolas sendo que as escolas não tem nada a ver com isto.
Escola ensina e não educa.
A não ser que, com muita grana , vc envie seus filhos para Eton, Sorbbone e afins para ficarem internos e aprenderem TUDO – sala, cozinha, quarto, conhecimento geral, tratamento, comportamento, línguas, contato com pessoas interessantes, network pessoal e profissional e – caso seja do seu interessse até um relacionamento com um semelhante.
Não tendo esta oportunidade, no caso da falta de dinheiro, e sobretudo nestes tempos de intolerância, nada mais necessário do que o exercício diário em cumprir com direitos e deveres para se viver em harmonia na sociedade.
E isto independe da origem pois os semelhantes se atraem – é algo extremamente forte e natural.
Detalhes como a mulher de um banqueiro usar o mesmo vestido duas vezes em eventos distintos, motivava comentários na coluna social.
Hoje não mais, pois assim como este comentário, outros mais caíram por terra.
Até mesmo a duquesa de Windsor repete roupas – é algo extremamente irrelevante.
Mas no passado esta atitude acontecia pelo fato da discrepância entre o patrimônio familiar e o inusitado repeteco do traje – mas hoje, dá- se importância e relevância na conduta e não na vestimenta.
Mas se estiver bem vestido e tiver bom comportamento é ponto no placar.
Até porque outros comentários mais generosos e coerentes, diziam que o gesto era a prova de desapego às convenções mundanas, de desdém pela peruagem, enquanto o colunismo social contrastava a modéstia à extravagância de outras convidadas.
No caso de hoje em dia, vemos mulheres (e homens também) grifados da cabeça aos pés. O que para mim é uma lástima.
Jamais esqueçamos de que em qualquer ocasião o menos sempre será o mais.Tão simples né ?
Eu, bem antes de me “tornar” colunista social (e de deixar de ser) – eu era ávido leitor das colunas sociais.
Digo, as verdadeiras colunas sociais de Tavares de Miranda, Giba Um, Ibrahim Sued, Nina Chavs, Danuza Leão, Zózimo, Boechat, Hildegard Angel e outros tantos nomes que fizeram escola e onde eu era aluno e discípulo.
Como leitor, em minha mocidade, aqui em Uberlândia, pertencente à sociedade, tive a oportunidade de frequentar o high society carioca e paulistano e estar presente em festas de nomes poderosos como Vidigal, Matarazzo, Mayrink Veiga, Scarpa, e outros similares aqui em Uber Land (onde não vou citá-los pois posso esquecer de alguém e isto não seria de “bom tom” –
substantivo masculino –
comportamento socialmente correto, bem-educado, segundo as normas de bom procedimento estabelecidas.
O interessante disto tudo, e que nunca falei para vcs, é que não existiam similares, de colunistas e colunáveis, jornais e colunas – no Exterior.
O Brasil sempre foi vaidoso e sua sociedade idem. Em sua grande maioria, pessoas rasas (salvo alguns enganos que alí estavam presentes mas completamente entediados).
O fato de ser um colunista e ter uma página assinada era algo sui generis, coisa que para um estrangeiro quando aqui chegava não entendia o “frisson” do society em disputar a tapa para ter sua foto estampada em uma coluna.
Para a imprensa internacional isto chegava a ser idiota.
O colunista, o verdadeiro, o que possuia verve (entusiasmo e inspiração que animam a criação e o desempenho do artista, do orador, do poeta; graça ou vivacidade que caracterizam uma personalidade, ou o que ela produz).
Acrescento aqui picardia pois detesto qualquer coisa que seja morna.
Este colunista tinha um nome que constituia lastro de credibilidade da informação alí veiculada.
Era “o” colunista – ou “a”.
Um dos pontos chave para esta credibilidade do colunista (que muitas vezes era apenas colunista e não jornalista e por isto o “se tornar um colunista”) – era a postura dele perante aquela atmosfera com fontes fidedignas, com furos de reportagem, furando qualquer editoria de todo um jornal.
Refrãos, frases. expressões, jargões e clichês faziam-se necessários nas notas sociais.
“Em sociedade tudo se sabe” – frase sábia de Ibrahim Sued pois se vc frequenta, se vc sai na noite, encontrará vários tipos de pessoas, as quais serão interlocutores vorazes a contar alguma coisa.
Às vezes uma história floreada demais e às vezes uma fonte sem fundamento nenhum.
Por isto a necessidade em saber se o fato era verdadeiro ou boato.
Nem se fala mais em boatos.
Mas o telefone comia solto.
Até aquela expressão de nossa língua portuguesa, o “de boca em boca” – o fato em sí é realmente poderoso mas a expressão não faz jus pois em francês é “bouche à oreille” – ou seja – boca à orelha, porque boca a boca, não se ouvia nada, duas bocas falando ou se beijando.
Agora a fofoca, o potin, o gossip (tão propagado pela maior colunista americana especializada nos escândalos de Hollywood, Elza Maxwell) – pelo telefone ou pessoalmente era boca e orelha, um falava e o outro escutava e assim passava para frente até Monteiro Lobato dfizer que quem conta um conto aumenta um ponto.
Mas o colunista contava o conto, apenas.
Fazia, obviamente comentários, coloca-se expressões, superlativava fatos e pessoas e ainda as adjetivava.
Mas na leitura, era diferente.
Primeiro que a “verdadeira” coluna social era a primeira a ser lida no jornal.
Todo mundo pegava o jornal, e ía direito no segundo caderno, caderno 2, ilustrada ou outro nome que seja, para ler e ver a coluna social.
Rasgava-se o jornal e se retirava a coluna social dele. Pregava-se em porta de guarda-roupas, recortava-se a nota e fazia-se álbum de colunas sociais e até porta-retratos.
A coluna social constitui testemunho eloquente dessa imagem pública autocomplacente.
O jornal usava o colunista. O colunista usava o jornal. O colunista ditava regras na sociedade e era adorado, temido e odiado. Mas era um grande formador de opinião.
O “sucesso” de nós – meros mortais é mais uma vez a vaidade e depois o fracasso.
Pois por meio da lisonja dos colunistas aos colunáveis e vice-versa; por meio das elites – porque JAMAIS se populariza uma coluna social.
Uma coluna social de respeito ele deve ter, primeiro – opinião e segundo – ser elitista.
Prestígio não se compra nem se ganha com trabalho árduo.
Prestígio se adquire naturalmente.
E não comprando seguidores nas redes sociais.
Eu nunca escrevi “que linda moça” na legenda da foto da coluna social sendo que ela não era bonita (colocava apenas o nome da pessoa) e como vemos na Internet de hoje em dia, onde a hipocrisia reina e tudo é “top” e lindo.
Argh.
Certos colunistas e suas colunáveis deveriam se chamar de alpinistas sociais.
Tenho MUITO mais para falar mas por hoje é só.
Obrigado por sua atenção.
CARLOS HUGUENEY BISNETO
ex-colunista social.
Apresentador de TV e sempre jornalista com registro MG 08861.
(aguarde o segundo capítulo).