Um dos artigos do decreto de calamidade publicado pela Prefeitura de Uberlândia dispõe sobre a suspensão de investimentos públicos em eventos festivos ou comemorativos por um período de 180 dias. A publicação coloca em discussão o desfile das escolas de samba da cidade que não terá recursos do município à disposição, a menos que o decreto seja revogado. O assunto é motivo de preocupação para a Associação das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Uberlândia (Assosamba), que teme pelo cancelamento das festividades do carnaval depois de quase 70 anos de tradição.
De acordo com o presidente da associação, William Couto, uma reunião será feita com o prefeito Odelmo Leão na próxima segunda-feira (9) para discutir a situação. “Estamos todos muito apreensivos. Temos que saber qual a verdadeira situação do carnaval e entrar em um consenso. São várias famílias que dependem dessa manifestação cultural. Pintores, carpinteiros, vendedores ambulantes, sem contar as escolas que já vêm se preparando há algum tempo para participar do desfile, inclusive com as fantasias e enredo prontos”, disse.
Conforme estimativas da Assossamba, cerca de 10 mil foliões estão integrados nas escolas de samba e blocos de carnaval, porém, o envolvimento com a organização do evento e membros da entidade chega a quase 30 mil pessoas.
No último ano, os organizadores já começaram a enfrentar dificuldades com o corte de gastos da Prefeitura e algumas mudanças foram feitas no regulamento. A Assosamba ficou responsável pela coordenação dos jurados, treinamento e fixação de procedimentos, enquanto a Secretaria Municipal de Cultura se comprometeu com as despesas de jurados, suporte de pessoal, além da estrutura do evento.
O dirigente acredita em uma saída positiva para os dois lados e já cogita um plano B, a partir da captação de recursos por meio do empresariado. “Nós temos pleno conhecimento da situação financeira gravíssima do município. Que vai ter que enxugar orçamento, vai ter. Mas espero que o governo possa estudar com carinho um plano, nos auxiliar junto aos empresários, por exemplo. Nós dependemos dessa festa, a Assossamba vive do produto carnaval”, argumentou Couto.
Outro ponto que será levantado pelos membros da associação durante o encontro com o atual governo é quanto ao local de realização da festa. A entidade é a favor de retornar a passarela do samba para a Avenida Monsenhor Eduardo. Nos últimos quatro anos, o carnaval foi realizado na Avenida José Roberto Migliorini em frente ao Parque do Sabiá. Segundo o presidente, desde então, houve uma queda de 60% do público visitante.
Com fantasias prontas, escola iniciou trabalhos em novembro
Antes mesmo de o decreto ser publicado, algumas pessoas, incluindo vereadores da cidade, já se mobilizavam nas redes sociais no início da semana aderindo à campanha contra o carnaval, em caso de prefeituras em crise. Para o presidente da escola Garotos do Samba, Otávio Afonso, o impasse é recorrente e nem todos entendem o que os envolvidos passam para realizar a festa na cidade.
“Todo ano é levantada a questão da falta de dinheiro da Prefeitura na hora de organizar o carnaval e estamos, mais uma vez, nesse impasse. Estamos vendo alguns vereadores fazendo campanha contra a festa, mas não podemos deixar a tradição morrer. Precisamos de alguma alternativa, seja uma avenida menor, com menos arquibancadas. Eu sei que, com ou sem dinheiro, vamos desfilar na avenida, pelo menos nossa escola”, comentou o presidente.
Segundo Otávio, os trabalhos para o desfile iniciaram em novembro, inclusive com o levantamento de recursos para confecção de fantasias e alegorias. A Garotos do Samba conta com mais de 450 integrantes, dispostos em 12 alas e cinco carros alegóricos.
EU SOU A FAVOR da NÃO REALIZAÇÃO do CARNAVAL –
PREFIRO CUIDAR da MINHA CIDADE que está NA UTI.