A ex-professora universitária e escritora uberlandense Zulmira Maria de Castro Baptista, faleceu hoje em Campinas em uma casa de repouso – infarto.
Quando buscava na memória as lembranças da cidade onde viveu a infância e a adolescência, a filha do radialista Geraldo Ladeira relembra a convivência do pai com políticos importantes.
Filha da dona de casa Marta de Castro Baptista e do radialista cujo nome de nascimento era Geraldo Motta Baptista, Zulmira acabou herdando o apelido do pai e é conhecida pelos uberlandenses como Zulmira Ladeira.

“Fui criada por três grandes homens que amavam o Brasil e Uberlândia. Além de papai, que foi prefeito da cidade, sou afilhada de Tubal Vilela da Silva e Juscelino Kubitschek de Oliveira. Não conseguimos lutar contra o que o destino nos reservou”, afirma a escritora sobre os três personagens políticos que fizeram parte de sua história.
Além da lembrança dos três políticos, Zulmira faz questão de ressaltar o fato de ser neta de Misael Rodrigues de Castro, presidente do Sindicato Rural de Uberlândia e da Aciub (Associação Comercial e Industrial de Uberlândia), durante a década de 40, e que dá nome a uma das largas avenidas do bairro Santa Mônica, na zona leste.
Na década de 40, pouco antes do nascimento da neta, Misael de Castro adquiriu a Rádio Difusora, que havia sido fundada em 1939 pelo empresário Aristides Figueiredo. No início da década de 50, Misael repassou o controle da rádio para o genro Geraldo Ladeira, que chegou a Uberlândia depois de ter trabalhado como radialista em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Ladeira exerceu o cargo de prefeito de Uberlândia entre 1959 e 1962, pelo PR (Partido Republicano), que ele havia fundado após se desfiliar do PSD (Partido Social Democrático). “Lembro nitidamente dos encontros e dos debates acalorados entre papai, Tubal e JK, que também eram do PSD. A BR-050 foi construída às margens de Uberlândia graças à insistência de papai”, disse Zulmira.

Influência do pai
No projeto original do então presidente JK (1956 a 1961), a rodovia federal, que liga Brasília (DF) a Santos (SP), passaria pela cidade de Indianópolis, no Triângulo Mineiro. Mas, de acordo com a lembrança da filha, a atuação do prefeito Geraldo Ladeira fez com que a BR-050 passasse por Uberlândia.
Antes de Ladeira, Tubal Vilela foi prefeito de Uberlândia entre 1951 e 1954. No lado oposto ao PSD de Ladeira, Tubal e JK, estava a União Democrática Nacional (UDN), do político Virgílio Galassi. Zulmira Ladeira diz que era respeitosa a rivalidade entre o pai e Virgilio, que chegou a ser prefeito de Uberlândia por quatro mandatos. “Quando dois homens têm ideias muito parecidas, em benefício da cidade, não importam suas preferências partidárias.”
Estudos
Zulmira Baptista estudou na Escola Estadual de Uberlândia, o Museu, na praça Adolfo Fonsenca, e no Colégio Nossa Senhora das Lágrimas, instituições localizadas no bairro Fundinho, setor central da cidade. Ela lembra que eram famosas as festas realizadas em casas de famílias uberlandenses e também no salão nobre do Uberlândia Clube. “A vida social da cidade acontecia na praça da República, onde os jovens faziam o footing e paqueravam.”
A futura professora universitária começou a se preparar para o vestibular de Direito, ainda em Uberlândia. Aprovada na seleção da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC) do Rio de Janeiro, Zulmira foi para a capital fluminense, onde morou durante uma década. No Rio, graduou-se em Direito, em 1971, e em Direito e Relações Internacionais pela Fundação Getúlio Vargas, quatro anos depois.
Depois das graduações, lecionou durante uma década nas faculdades Cândido Mendes, PUC-Rio e Estácio de Sá, todas na capital fluminense. Zulmira ainda morava no Rio de Janeiro, quando nasceu o filho único, João Geraldo de Castro Motta Baptista, de 32 anos.
A partir de 1981, com a perda do pai, Zulmira assumiu o comando das rádios que eram administradas por Geraldo Ladeira, em Minas Gerais e Goiás. “A partir do nascimento do João e da morte de papai, iniciei uma nova etapa de minha vida. E fui extremamente feliz na administração da rede de emissoras de rádios”, afirmou.
Descanso
Em 1992, Zulmira Baptista participou da Eco-92, conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Meio Ambiente realizada no Rio. Duas décadas depois, quando os cariocas sediaram, na semana passada, a Rio+20 e voltaram a debater os problemas ambientais do planeta, a professora de Direito Internacional afirma que o homem precisa se preocupar com as futuras gerações.
O doutoramento e o título de Ph. D. (pós-doutora) em Direito Público Internacional e Ambiental pela Universidade Autônoma de Madrid vieram no início do século 21. Na mesma época, começou a se dedicar apenas aos livros. Autora de diversas obras, Zulmira diz que algumas delas ganharam destaque em universidades brasileiras e espanholas, como “Direito Ambiental Internacional: Política e Consequências”, “A Nova Inteligência e a Civilização Digital” e o “Direito Internacional Público no 3º Milênio – Interesses Difusos”.




A escritora diz que prefere levar uma vida mais tranquila em Uberlândia, tomada apenas pela saudade do filho João e do neto João Gabriel, de 4 anos. “Tive uma vida de muito trabalho, aulas e viagens. Hoje quero descansar e transmitir tudo que aprendi aos jovens. Infelizmente, não vislumbro soluções para os problemas que a humanidade enfrenta nas áreas política, econômica, ambiental e, principalmente, religiosa. O homem está em busca de novas formas de ilusão e os humanos, apesar de muito mais sábios, estão muito mais tristes”, disse Zulmira Baptista ou, para os uberlandenses, Zulmira Ladeira.
ZULMIRA – DESCANSE EM PAZ – (fonte – ex-jornal Correio).